quarta-feira, 1 de março de 2017

Logan | "Não fiz um filme de super-herói para vender brinquedos, fiz uma história de família", diz diretor

James Mangold fala sobre as referências de faroeste do filme



Revelado há duas décadas como uma promessa do cinema independente com Paixão Muda, pelo qual ganhou um prêmio de direção no Festival de Sundance em 1995, James Mangold revisita suas raízes dramatúrgicas (e seu gosto pelo risco) com Logan, que estreia esta semana no Brasil, com a promessa de se tornar um dos maiores sucessos de público do ano.

Depois de anos flertando com uma estética mais comercial, o cineasta nova-iorquino redesenha o perfil do mais amado dos X-Men em seu novo longa-metragem, optando por uma narrativa mais seca, com referências a faroestes clássicos (Os Brutos Também Amam) e modernos (Os Imperdoáveis).

“Nos Estados Unidos, um filme que ganha uma classificação indicativa para adultos é delineado, em sua base, como um filme sem concessões: ou seja, eu não fiz um filme de super-herói com parceiros coloridos que pudessem render bonequinhos ou camisetas. Eu fiz uma história de família. Logan não é um filme pra crianças”, disse o diretor de 53 anos no Festival de Berlim.

“Eu não sou um diretor que chega aos sets com storyboards fechados, com tudo pronto. Eu crio o filme no calor do set. E neste filme tinha a busca por algo mais trágico”.

Na Berlinale, veio de Mangold a confirmação de que o projeto usa a série de HQs Old Man Logan como matéria-prima para o réquiem da franquia do Wolverine, que termina com dois pés fincados no realismo. Ao longo de 2h15m, a trama, que se passa num futuro próximo, mostra um agrisalhado Logan (Hugh Jackman, completando 17 anos no papel), numa realidade onde os mutantes desapareceram, sendo ele, Xavier e Caliban (Stephan Merchant) os últimos conhecidos. Aposentado da ação, o ex-herói ganha a vida como motorista. Mas, entre suas missões, ele precisa conduzir uma menina misteriosa, Laura (Dafne Keen), a um lugar chamado Éden. Ela tem garras como as de Wolverine e, no tal Éden, ela poderá sobreviver à perseguição empreendida pelo mercenário Donald Pierce (Boyd Holbrook, de Narcos).

“Sou leitor voraz de quadrinhos desde os 11 anos, daqueles que compram revistinhas semanalmente, devorando todas as fases dos X-Men. Eu trouxe muito das HQs do Mark Millar pra este filme e busquei elementos da saga Inocência Perdida também”, explicou Mangold, que apostou numa narrativa de ritmo de ação febril, feita nos moldes da estética hiperrealista do cinema autoral americano da década de 1970, sobretudo a do diretor Sam Peckinpah em Os Implacáveis (1972).

“Nos sets, nós conversamos muito sobre um filme de Clint Eastwood, Os Imperdoáveis, com foco na  figura do pistoleiro vivido por Richard Harris, que tem sua história narrada por um escritor. Naquele filme, ganhador de Oscar, o caubói de Harris tinha uma mitologia atrás de si: escreviam folhetins e livros sobre ele. Quis mostrar algo parecido com Wolverine: foram escritos quadrinhos sobre ele, como se ele fosse uma lenda”.

Embora já tivesse dirigido Hugh Jackman no sucesso de bilheteria Wolverine: Imortal, Mangold investe aqui em um traço distinto para o herói, mais desiludido e impotente, como fez com Sylvester Stallone em seu filme mais famoso CopLand (1997).

“Existe uma responsabilidade grande na representação da decadência de um mundo, mas na perenidade dos afetos”, disse Mangold.

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